“Por muito que tente não consigo ser uma pessoa organizada”, “Não está na minha natureza”, “Eu gostava de ser mais organizado/a, Porque é que não me consigo organizar? Nem sei por onde começar”. Muitas pessoas referem que apesar de gostarem de ter a organização presente nas suas vidas e nas suas casas não o conseguem fazer. Se sente esta dificuldade, leia este artigo para perceber porque é que isto acontece.
Ouvimos frequentemente pessoas dizerem que se sentem incapazes de manter a casa organizada. Pessoas com diferentes formações profissionais, pessoas inteligentes e competentes nas suas áreas de trabalho e noutras áreas da sua vida. Mas, de onde vem esta sensação, de que não conseguem ser mais organizadas, ou ter a casa mais organizada?
Crenças limitantes! Ao longo da vida as nossas experiências e interpretações que fazemos sobre as situações vão moldando a nossa percepção de nós próprios e daquilo que acreditamos ser capazes de fazer. Eu nunca li um livro sobre pilotar aviões, nunca fiz um curso de aviação, nem sequer entrei num cockpit. Alguém, no pleno uso das suas faculdades, acha que eu seria candidata a pilotar um avião? Claro que não! E devo sentir culpa ou vergonha de não saber pilotar um avião? A resposta é a mesma: não! Se nunca aprendi sobre aviação, se nunca me ensinaram é natural que não saiba pilotar um avião. E não há qualquer razão para me envergonhar.

Mas, por alguma razão, muitas pessoas sentem-se culpadas e envergonhadas por não saberem ter a casa organizada, por não conseguirem ter uma casa de catálogo, sempre pronta a receber até o convidado mais exigente. Queremos deixar claro que as casas são para ser vividas, ninguém é perfeito nem é algo que as pessoas organizadas queiram ser. (Veja o artigo da Ana Ferreira no qual respondemos à questão “Pessoas Organizadas: Serão Perfeitas?”). É normal que, por vezes, a nossa casa não esteja tão organizada como desejávamos, que imprevistos aconteçam. E está tudo bem. A organização serve para facilitar a nossa vida, permitir-nos ter mais tempo para fazermos as coisas que mais gostamos e estarmos com quem mais gostamos. Tal como pilotar aviões, organizar uma casa implica aprender a realizar tarefas, praticar, cometer erros e continuar a praticar.

Há várias crenças que vamos apreendendo e aprendendo ao longo da vida que podem dificultar o processo de organização. Vamos conhecer e desconstruir algumas das crenças limitantes mais frequentes em relação à organização.
Começar uma tarefa grande – como organizar uma casa – pode gerar uma sensação esmagadora. Só a ideia de dedicar tempo a fazer uma série de passos para chegar a um resultado difícil de imaginar pode resultar num bloqueio mental. Mas, garantimos que a parte mais difícil é começar. Experimente partir essa tarefa em várias tarefas mais pequenas, tarefas que consegue visualizar e executar em períodos de tempo mais curtos. Não procure distracções para evitar começar, comece.
É difícil arranjar motivação para fazermos o que não nos apetece fazer. Em comparação, tudo parece mais prazeroso e mais urgente. Vai ter de aceitar que, na organização, ser disciplinado/a é mais importante que estar motivado/a. Se decidiu que vai organizar o seu roupeiro este sábado, faça-o, não procure desculpas para não o fazer. Estas resistências internas podem ser difíceis de ultrapassar sozinho/a. Experimente assumir um compromisso com outra pessoa, diga-lhe que vai organizar o roupeiro. É mais fácil não cumprir com o planeado se só nós soubermos o que estava planeado.

Eu sou diferente/ A minha casa é diferente/ A minha situação é diferente
Claro que as características de cada pessoa e da sua casa vão influenciar o processo de organização, mas não use essas características como razão para não começar a organizar. Todos somos diferentes, todos temos uma história e particularidades que podem facilitar ou dificultar este processo. Mas lembre-se que, tal como pilotar aviões, organizar a casa é algo que se aprende, o que significa que você consegue fazê-lo.
Muitas pessoas acreditam que organizar a casa é uma tarefa demasiado complexa, imaginam cenários hercúleos. Esta crença é difícil de ultrapassar, a verdade é que se não é uma pessoa organizada começar este processo vai ser difícil. Mas a boa notícia é que melhora. À medida que for fazendo e vendo resultados, a organização vai-se tornar mais fácil e menos bicho papão. Se esta é uma das suas crenças, comece com um projecto pequeno. Organize uma gaveta, não precisa de organizar toda a cozinha num dia. Lembre-se da fábula da lebre e da tartaruga, devagar se vai ao longe.

Frequentemente as pessoas não começam uma tarefa por terem receio de não conseguirem obter um resultado perfeito. O objectivo da organização não é ter uma casa perfeita, é ter uma casa que respeita as rotinas e necessidades dos habitantes da casa, é facilitar o dia-a-dia de quem mora lá em casa. Com consistência vai identificar o que funciona melhor para si na sua casa, mas o objectivo é o progresso, não a perfeição.
Ao mexer e olhar para objectos que não víamos há muito tempo, que já nem nos lembrávamos que tínhamos é tentador ficar a recordar memórias associadas aqueles objectos. É mais fácil passar o dia a relembrar bons e maus momentos do que decidir o destino de cada objecto. Defina momentos para organizar e momentos para pensar sobre estas recordações. Mais uma vez, a disciplina é mais importante que a motivação.
Não há uma fórmula mágica, uma forma de organização única que funciona para todos em todas as casas e momentos. A organização certa é aquela que funciona para si, aquela que consegue manter e que lhe permite saber onde tem as suas coisas. Em organização costumamos dizer que todos os objectos precisam de uma casa. Isto significa que para cada coisa que tem deve definir um local para a guardar quando não está a ser usada. O truque é perceber que locais funcionam melhor para ser a casa de cada objecto. Pense com que frequência e em que situações usa cada objecto. As coisas que mais usa no dia-a-dia – como a caneca que usa ao pequeno-almoço – devem ter um acesso facilitado, ao passo que aquilo que usa pouco – como a travessa que só é usada no Natal – deve ocupar lugares mais escondidos, de difícil acesso.
Assim como não precisa de saber ler antes de ir para a escola, não precisa de esvaziar a cozinha, limpá-la de uma ponta à outra e depois começar a organizar os armários e gavetas. Este pensamento pode ser contraproducente e impedi-lo/a de sequer começar a organizar. A melhor estratégia é ir limpando as superfícies à medida que vai organizando cada zona.

Tal como não existe uma única forma de organizar, não existem os produtos de organização certos. Começar a organizar não significa começar a comprar organizadores. Começar a organizar significa olhar para os seus objectos, definir quais quer manter e onde. Só depois desta etapa é que faz sentido definir que produtos organizadores necessita, se é que necessita de algum. Muitas vezes é possível utilizar produtos que as pessoas já têm em casa e que estavam sub-aproveitados, transformar materiais e organizar divisões inteiras sem ser preciso fazer compras.
Em suma, pequenos truques, como partir uma tarefa grande em tarefas mais pequenas, assumir um compromisso com outra pessoa, começar por projectos pequenos (devagar se vai ao longe), definir momentos para organizar, identificar uma casa para cada objecto e ir limpando à medida que se vai organizando podem ajudá-lo/a a começar. Mas, o mais importante é que se lembre que organizar uma casa implica aprendizagem, treino e erros. Ninguém nasce ensinado/a. A organização aprende-se e isto significa que, se quiser, você pode aprender a ser mais organizado/a. Ser disciplinado/a é o mais importante, o objectivo é progredir, pelo que a consistência é essencial para chegar ao resultado pretendido. Tenha em mente, sobretudo, que não existe uma única maneira de organizar.

Identificou-se com alguma destas crenças? Começar pode ser difícil, mas vai ver que com disciplina e consistência ter uma casa organizada é possível.
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