Transporte-se para o seguinte cenário imaginário: está deitada na mesa cirúrgica e enquanto o seu cirurgião executa a cirurgia, simultaneamente resolve um problema familiar ao telefone. Fica confortável com esta visão? Sabe o que esse cirurgião está a fazer? Chama-se multitasking, que em português significa multitarefa. A multitarefa traduz-se na habilidade de executar duas ou mais tarefas em simultâneo. A nossa sociedade considera uma mais-valia demonstrarmos essa capacidade, uma vez que a ligam à produtividade. Mas, na realidade, existem riscos associados. Tal é que, presentemente, já se valorizam mais as pessoas monotasking, ou seja, que realizam uma tarefa de cada vez.
Entremos então nestes conceitos para melhor percebermos a dinâmica de cada um. Existem vários estudos – American Psychological Association, University of Southern California, Healthcare In Europe – que melhor nos explicam as implicações da forma como lidamos com a execução das nossas tarefas.
O conceito multitasking tem sido valorizado pelo mundo empresarial, até porque cada vez mais existe uma sobrecarga de tarefas para os trabalhadores, com timings de execução pouco dilatados. Exige-se assim que a produtividade aumente para fazer face a um menor número de trabalhadores associados a um elevado número de tarefas. É até considerado como uma habilidade de capacidade de adaptação, olhando para essas pessoas como polivalentes. No entanto esse conceito também se aplica à nossa vida pessoal. Mas será que é funcional como se pensa? Na realidade vários estudos demonstram que, de uma forma generalista, pessoas multitasking apresentam um decréscimo na sua produtividade, tem uma maior dificuldade na tomada de decisão, aumentam os níveis de stress e estão mais expostas a erros. Além disso mais facilmente atingem o estágio de burnout.
O nosso cérebro está formatado para se concentrar na execução de uma tarefa de cada vez (monotasking). Logo, quando o “distraímos” a saltar entre tarefas, o nosso cérebro sente-se pressionado para fazer essa mudança, potenciando a fadiga mental (multitasking). Ou seja, a mudança entre tarefas faz com que o nosso foco reduza e demore, em média, cerca de 10 a 15 minutos a voltar a focar no que pretendemos executar.
Mas o que fazer quando temos várias tarefas para realizar? Bem, uma das boas técnicas que pode aplicar é a técnica Pomodoro, criada por Francesco Cirillo no final dos anos 1980. Esta técnica ajuda a fazer uma boa gestão do seu tempo, com a realização de divisão de tarefas por blocos com duração de 25 minutos cada, com intervalos de 5 minutos. Ao fim do quarto bloco de 25 minutos deverá fazer um intervalo de 15 a 30 minutos. Este último intervalo permite fazer a transição para uma tarefa diferente, dando tempo ao seu cérebro para se desligar da tarefa anterior. Para ser melhor sucedido comece por elaborar a lista de tarefas a executar, por prioridades. Para gerenciar os tempos poderá utilizar um cronómetro ou até instalar uma aplicação Pomodoro, pois existem várias disponíveis.
Um artigo que lhe poderá dar dicas preciosas para fazer uma melhor gestão da sua produtividade, tendo em conta o autoconhecimento, foi publicado pela CNN Portugal. Deixo-lhe aqui o link: https://cnnportugal.iol.pt/trabalho/tarefas/o-trabalho-presencial-pode-roubar-horas-do-seu-tempo-aqui-ficam-algumas-dicas-de-especialistas-para-ser-mais-produtivo/20220629/62b9e1840cf2f9a86eab00b6

Fica então fácil entender que o conceito monotasking será o mais adequado pelas suas mais-valias. Já vimos que o nosso cérebro está formatado para realizar as tarefas de forma singular, num determinado período de tempo. Esta ação permite o nosso cérebro focar-se e mais rapidamente terminar a execução dessa tarefa. Mas para que tal aconteça temos de evitar as distrações que sistematicamente se nos deparam: a notificação de e-mail recebido, a mensagem que cai no telemóvel, o programa que está a passar na televisão, entre tantas outras possíveis situações. Não é raro ouvir comentários de pessoas que procuram locais “neutros” para poderem trabalhar mais focados e não serem interrompidos. Experimente colocar o seu telemóvel em modo de voo e sentirá uma grande diferença. Mais do que nunca são as tecnologias que potenciam as distrações.
Sem darmos conta facilmente entramos em modo multitasking! A sociedade de hoje em dia tem um ritmo alucinante, cheia de solicitações que facilmente nos retiram o foco do que pretendemos fazer no momento. Senão pense: quantas vezes está no transito, no pára-arranca, e pega no seu telemóvel para enviar mensagens; ou vai ao supermercado fazer as compras da semana e distraída numa chamada telefónica acaba por esquecer de comprar tudo o que lhe fazia falta… e pior ainda, num jantar de amigos foca-se no seu telemóvel e não participa nesse convívio, deixando os seus amigos irritados…
Escolhas conscientes de como lidamos com as tarefas que temos de realizar influenciam a nossa qualidade de vida. Cal Newport escreveu o livro Deep Work – A concentração máxima num mundo de distrações – o qual aborda a temática do foco, concentração e produtividade. Se quiser saber mais sobre este livro partilho consigo o seguinte link: https://flutuante.org/2021/09/02/deep-work-primeira-regra-trabalho-focado/
Olhe agora para a forma como lida com as inúmeras tarefas que tem para realizar. Será que irá começar a estar mais atenta á forma como realiza as suas tarefas e que implicações tem na sua vida?
Ana Ferreira
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